3.
Acesso ao Saneamento e a Saúde da Mulher

 
 
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A falta de saneamento tem implicações imediatas sobre a saúde e a qualidade de vida das mulheres que moram em áreas degradadas do ponto de vista ambiental. A falta de água tratada tem impacto direto sobre a saúde, principalmente a das mulheres mais novas e a das mais velhas, pois ela aumenta a incidência de doenças de veiculação hídrica e de doenças respiratórias.

A carência de serviços de coleta e de tratamento de esgoto, mesmo quando há o acesso à água tratada, é a causa de outra parte das infecções gastrointestinais, das doenças transmitidas por mosquitos e animais e das pneumonias e gripes. A privação do saneamento, um dos pilares da situação de pobreza menstrual, tem consequências sobre a saúde da mulher, como a ocorrência de problemas ginecológicos e urinários.

Nesses três grupos de problemas de saúde, as situações mais graves surgem nas beiras de rios e córregos contaminados ou em ruas onde passa esgoto a céu aberto, que corre em valas e sarjetas. Mas a poluição dos reservatórios de água e dos mananciais, cuja qualidade tem se deteriorado ao longo dos anos, também afeta a saúde da mulher brasileira.

 

Este capítulo analisa a incidência de doenças de veiculação hídrica e as de doenças respiratórias nas mulheres brasileiras, a evolução desses indicadores e a gravidade das infecções.

Também é analisada a incidência de doenças ginecológicas, que levam ao afastamento das mulheres brasileiras de suas atividades rotineiras.

 

Para cada conjunto de doenças, é analisado o efeito parcial da falta de saneamento sobre a incidência das doenças, levando em consideração um conjunto amplo de outras variáveis que afetam as chances de adoecer.

A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) do IBGE levantou informações bastante detalhadas sobre a saúde das mulheres em 2019 que permitem relacionar os problemas de saúde que afligiram a população feminina brasileira com as características socioeconômicas das mulheres.

Entre os pontos analisados, a pesquisa perguntou a uma amostra representativa de habitantes se houve afastamentos das atividades rotineira nas duas semanas anteriores à data da entrevista, qual o motivo dos afastamentos e por quantos dias os entrevistados estiveram afastados. Com base nessas informações, é possível avaliar a incidência de afastamentos das atividades rotineiras nas populações feminina e masculina do Brasil por motivo de diarreia ou vômito, sintomas diretamente associados a doenças de veiculação hídrica.

Em 2019, segundo dados da PNS, 1,668 milhão de pessoas indicaram ter se afastado de suas atividades rotineiras por motivo de diarreia ou vômito (infecções gastrointestinais presumíveis) e doenças transmissíveis por insetos. Desse total, 1,012 milhão eram mulheres (60,7% do total) e 656 mil eram homens (39,3% do total). Com base nesses dados, estima-se que houve 43,374 milhões de casos de afastamento por doenças de veiculação hídrica, sendo 26,324 milhões de casos entre as mulheres ao longo do ano de 2019.

Em 2019, 87,4% da população feminina afastada de suas atividades em razão de doenças de veiculação hídrica morava nas áreas urbanas do país e apenas 12,6% nas áreas rurais. Na capital das unidades da federação, ocorreram 5,843 milhões de casos (22,2% do total), e nas cidades do interior, 20,481 milhões (77,8% do total). As regiões do país com os maiores números de afastamento entre as mulheres foram o Sudeste, com 10,665 milhões de casos (40,5% do total) e o Nordeste, com 8,233 milhões de casos (31,3% do total).

Entre as unidades da federação, os maiores números de casos ocorreram nos estados mais populosos: sozinho, o estado de São Paulo respondeu por 23,5% dos casos de afastamentos de mulheres em razão de doenças de veiculação hídrica, Minas Gerais respondeu por 8,7% do total de casos no país e Bahia por 8,4%. As estatísticas por região, área e capitais são apresentadas na

Mapa 3.1
Incidência de afastamento por diarreia ou vômito na população feminina, em casos por mil mulheres, 2013

Fonte: IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

A taxa de incidência de afastamento mede a razão entre o número de casos ocorridos e o total da população, ou seja, ela mede os afastamentos em termos relativos. A taxa de incidência é expressa em casos por mil habitantes. Nesse indicador, houve 240,6 afastamentos a cada mil mulheres no país em 2019.

Na média das capitais, a taxa de incidência foi mais baixa: 216,9 casos por mil mulheres.  Em termos regionais, as maiores incidências ocorreram na Região Nordeste, com a observação de 275,1 casos por mil mulheres. Ali, os estados com maiores incidências de afastamentos por diarreia e vômito foram Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, todos com índices superiores a 250 afastamentos a cada mil mulheres.

As regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste também registraram taxas elevadas. No Norte, pesaram os resultados do Acre, Roraima e Amapá, com taxas de incidência de 330,1, 390,8 e 392,8 casos por mil mulheres, respectivamente. Na Região Centro-Oeste, pesaram os casos de Mato Grosso do Sul, com 274,5 casos a cada mil mulheres, e Goiás, com 339,9 casos por mil mulheres ao longo de 2019. Vale destacar ainda os índices relativamente ruins do estado do Espírito Santo, que teve 292,4 casos a cada mil mulheres, e de São Paulo, com 258,5 casos por mil mulheres, no Sudeste.

Os afastamentos por doenças de veiculação hídrica estavam concentrados nas mulheres mais jovens. Na faixa etária de até 14 anos de idade, a incidência de afastamentos das atividades rotineiras chegou a 341,3 casos por mil mulheres em 2019. Na faixa entre 15 e 29 anos de idade, a incidência caiu para 206,7 casos por mil mulheres. A partir dos 30 anos, a taxa de incidência ficou próxima a 230 casos a cada mil mulheres.

Vale observar que, para todas as faixas etárias, a incidência de afastamentos por diarreia ou vômito é maior na população feminina do que na masculina. A maior diferença em valor absoluto se deu na faixa etária de pessoas entre 30 e 59 anos. Como será analisado em maior detalhe nos capítulos seguintes, nessa faixa havia uma concentração grande de estudantes e mães. 

Gráfico 3.1
Incidência de afastamentos por motivo de diarreia ou vômito na população, por gênero e faixa etária, em casos por mil habitantes, 2013

Fonte: IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

 

Gráfico 3.2
Incidência de afastamentos por motivo de diarreia ou vômito na população feminina, por raça declarada, em casos por mil habitantes, 2013

Fonte: IBGE, 2015. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

 

A incidência de afastamentos por diarreia ou vômito não foi muito elevada na população feminina indígena. Nesse grupo, houve 134,6 casos a cada mil mulheres em 2019. As populações de mulheres autodeclaradas pretas, brancas e pardas registraram índices elevados: respectivamente, 273,2, 247,2 e 229,5 casos por mil mulheres.

Gráfico 3.3
Incidência de afastamentos por motivo de diarreia ou vômito na população feminina, por nível de instrução, em casos por mil habitantes, 2013

Fonte: IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

 

Na distribuição por nível de instrução, as taxas de incidência foram maiores entre as mulheres sem instrução, categoria que registrou 264 casos a cada mil mulheres, e aquelas que estavam cursando o ensino superior, com 341,1 casos por mil mulheres. O terceiro grupo com taxa mais elevada foi o de mulheres com curso médio incompleto, com 231,6 casos por mil pessoas. Vale observar que foi relativamente reduzida a incidência de afastamentos por doenças de veiculação hídrica entre as mulheres com curso superior completo. Nesse grupo, houve apenas 205,7 casos a cada mil mulheres em 2019.

Gráfico 3.4
Distribuição por classe de rendimento dos afastamentos por motivo de diarreia ou vômito na população feminina, 2013

Fonte: IBGE, 2015. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

 

Gráfico 3.5
Incidência de afastamentos por doenças de veiculação hídrica na população feminina, por quintil da distribuição domiciliar de renda per capita, em casos por mil habitantes, 2019

 

Do total de 26,304 milhões de casos de afastamento por doenças de veiculação hídrica entre as mulheres brasileiras, aquelas que moravam em domicílios no primeiro quintil da distribuição da renda domiciliar per capita responderam por 5,674 milhões de casos, ou seja, por 20,4% do total de casos. No segundo quintil, houve uma concentração maior: 6,028 milhões de casos, ou 22,9% do total. Em termos relativos, vale destacar que as taxas de incidência foram maiores nos dois primeiros quintis, em que ocorreram mais de 250 casos a cada mil mulheres. Isso está diretamente associado às condições materiais de vida, ao acesso ao saneamento e à falta de educação.

 

Gravidade das doenças

 

Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) do IBGE, nos 26,304 milhões de casos de afastamento de mulheres por doenças de veiculação hídrica ocorridos no país ao longo de 2019, as mulheres afastadas ficaram longe de suas atividades por 4,72 dias, em média. Isso implicou a ocorrência de 124,123 milhões de dias de afastamento das atividades rotineiras ao longo de um ano. Se não tivessem contraído infecções gastrointestinais, essas mulheres poderiam trabalhar, estudar ou simplesmente descansar nesse período em que ficaram enfermas.

Comparativamente à população masculina, vale mencionar que o número médio de dias de afastamento das mulheres em razão de diarreia ou vômito foi maior. No grupo dos homens, os afastamentos por esse motivo duraram 4,35 dias, em média. Assim, a população feminina respondeu por 62,6% do total de dias de afastamento e a masculina por apenas 37,4%. 

Dos 26,304 milhões de casos de afastamento de mulheres por doenças de veiculação hídrica ocorridos no país ao longo de 2019, 11,059 milhões ficaram acamadas pelo menos um dia durante o afastamento. Isso significa que, em 42% dos casos de afastamento, as infecções foram graves o suficiente para requerer acamamento. Nessa estatística de gravidade das infecções, os índices masculinos também foram mais reduzidos: apenas 39,4% dos homens que se afastaram de suas atividades rotineiras em razão dessas doenças ficaram acamados.

A taxa de incidência de mulheres acamadas em razão de doenças de veiculação hídrica foi de 101,1 em cada mil pessoas. Nas áreas rurais do país, a taxa de incidência foi maior (109,4 a cada mil mulheres), e nas áreas urbanas, menor (99,7 a cada mil mulheres). A Tabela A.6 do Anexo Estatístico traz as estatísticas por unidade da federação, áreas e regiões.

Mapa 3.2
Incidência de mulheres acamadas por doenças de veiculação hídrica na população feminina, em casos por mil pessoas, 2019

Fonte: IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica

 

A incidência de mulheres acamadas em razão de doenças de veiculação hídrica foi relativamente maior nas regiões Nordeste e Norte do país: respectivamente 128,7 e 127,9 casos por mil mulheres. As menores incidências foram nas regiões Sudeste e Sul, as quais registraram respectivamente taxas de 85,0 e 79,1 casos a cada mil mulheres. No caso da Região Sul, as estatísticas da área rural do estado de Santa Catarina chamam a atenção: a incidência de mulheres acamadas foi de 121,4 a cada mil pessoas. No Sudeste, as áreas rurais do Rio de Janeiro também apresentaram índice muito elevado: 312,9 casos de acamamento a cada mil mulheres.

Gráfico 3.7
Parcela da população feminina afastada por doenças de
veiculação hídrica que ficou acamada, por faixa etária, 2019

 

Gráfico 3.7
Parcela da população feminina afastada por doenças de
veiculação hídrica que ficou acamada, por faixa etária, 2019

Fonte: DATASUS e IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.


A incidência de mulheres acamadas em razão de diarreia ou vômito foi relativamente maior nas regiões Nordeste e Norte do país: de respectivamente 47,8 e 40,0 casos por mil mulheres. As menores incidências foram nas regiões Sudeste e Sul do Brasil, as quais registraram taxas de respectivamente 23,2 e 38,5 casos a cada mil mulheres. No caso da região Sul, as estatísticas do estado de Santa Catarina novamente chamam a atenção: a incidência de mulheres acamadas foi de 77,8 a cada mil pessoas, uma taxa 109,4% superior à média da própria região.

 

Gráfico 3.6
Distribuição das mulheres acamadas em razão de diarreia ou vômito, por faixa etária, 2013

Fonte: DATASUS e IBGE, 2015. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica

Gráfico 3.7
Parcela da população feminina afastada por diarreia ou vômito que ficou acamada, por faixa etária, 2013

Fonte: DATASUS e IBGE, 2015. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica

Aproximadamente um quinto casos de acamamentos em razão de doenças de veiculação hídrica ocorreu entre as mulheres com até 14 anos de idade (21,5% do total de casos). As mulheres jovens, com idade entre 15 e 29 anos, responderam por 13,8%, aquelas com idade entre 30 e 59 anos, por 47,1% dos casos, e as mulheres com mais de 60 anos, por 17,5%. Isso indica que o acamamento afetou, sobretudo, as mulheres em idade produtiva.

Segundo informações da base de dados do Sistema Único de Saúde (DATASUS), houve 273.224 internações em razão de doenças de veiculação hídrica nos hospitais da rede do SUS em 2019. Do total de pessoas internadas, 141.011 (51,6% do total) eram mulheres e 132.213 eram homens (48,4% do total). A Tabela A.7 do Anexo Estatístico  traz o número de mulheres internadas em razão de doenças de veiculação hídrica nos hospitais da rede do SUS em 2019, por unidade da federação, área e capitais, os quais permitem comparações com as estatísticas de afastamentos e de mulheres que ficaram acamadas.

Gráfico 3.8
Incidência de internações por motivo de doenças de veiculação hídrica na população,
por gênero e faixa etária, em casos por mil habitantes, 2019

Fonte: DATASUS e IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

As estatísticas mostram a incidência de 1,289 internações a cada mil mulheres em 2019, um valor menor que o da população masculina (1,320 por mil homens). Esse resultado se deveu à maior incidência de internações na população masculina até 14 anos e idade. Para as demais faixas etárias, as taxas de incidência de internações foram maiores entre as mulheres. Os dados mostram que as mulheres ficaram, em média, em torno de 3,2 dias internadas, indicando o total de 450.694 dias de internação em hospitais da rede do SUS em 2019.

Mapa 3.3
Incidência de mulheres internadas na rede do SUS por doenças de veiculação hídrica na população feminina, em casos por mil pessoas, 2019

Fonte: DATASUS e IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica

 

Também conforme as estatísticas do DATASUS, foram registrados 2.733 óbitos em razão das doenças de veiculação hídrica em todo país em 2019. Desse total, 1.374 óbitos foram de mulheres (50,3% do total). Três em cada quatro desses óbitos ocorreram na população mais idosa, apesar do fato de essas enfermidades serem mais frequentes nas jovens. Apenas 4,7% dos óbitos foram em meninas que tinham até 14 anos de idade.

Gráfico 3.9
Incidência de óbitos por doenças de veiculação hídrica na população, por gênero e faixa etária, em casos por 100 mil habitantes, 2019

Fonte: DATASUS e IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

A taxa de mortalidade em razão de doenças de veiculação hídrica foi semelhante entre as mulheres e os homens. Em 2019, 1,256 mulheres morreram por esse motivo em cada 100 mil pessoas. Na população masculina, a taxa de mortalidade foi de 1,357 pessoas em cada 100 mil homens. Considerando as faixas etárias, a maior proporção de mortes ocorreu na população feminina com mais de 60 anos de idade: 5,283 pessoas a cada 100 mil mulheres.

A taxa de mortalidade foi particularmente elevada na Região Nordeste, com incidência de 1,838 mortes a cada 100 mil mulheres. No Norte do país, a maior taxa foi observada em Roraima, que registrou 3,715 mortes por 100 mil mulheres. No Nordeste, os estados com maiores incidências de mortes em razão de doenças gastrointestinais infecciosas foram Paraíba (2,312 mortes a cada 100 mil mulheres) e Pernambuco (2,266 mortes a cada 100 mil mulheres).

Mapa 3.4
Óbitos de mulheres por doenças de veiculação hídrica na população feminina, em casos por 100 mil pessoas, 2019

Fonte: DATASUS e IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

 

Saneamento e saúde

 

As consequências adversas da falta de saneamento na saúde da população são severas, mas o avanço da distribuição de água tratada e da coleta e do tratamento de esgoto traz resultados visíveis. Segundo dados do Censo Demográfico de 2010, cerca de 18 milhões de mulheres não tinham acesso à rede geral de distribuição de água, o que equivalia a 18% da população feminina do país. Na época, 48,4 milhões de mulheres não tinham acesso à coleta de esgoto em suas residências, ou 51,6% da população feminina brasileira. Em 2019, o número de brasileiras sem acesso à água tratada havia caído para 15,6 milhões, o que indicava um déficit relativo de água tratada de 14,6% da população feminina. Em termos relativos, a queda da parcela de brasileiras sem acesso aos serviços de coleta de esgoto foi maior, de 10,2%, passando de 48,4% em 2010 para 38,2% em 2019. Isso significa que, a despeito do forte crescimento demográfico observado no período, o número de brasileiras sem coleta adequada de esgoto em 2019 (41,0 milhões de mulheres) era menor do que o de 2010 (48,3 milhões).

O Gráfico 3.10 mostra, para a população feminina, a evolução conjunta da cobertura de coleta de esgoto no país e a incidência de doenças de veiculação hídrica que resultaram em internação no SUS entre 2010 e 2019. A cada ano, com o aumento da parcela da população feminina atendida pelo sistema de coleta de esgoto, caiu de forma sistemática a taxa de internações (pessoas internadas por mil mulheres). O Gráfico 3.11 mostra a ampliação da população com acesso à água tratada e a redução sistemática da taxa de incidência de doenças de veiculação hídrica. 

Gráfico 3.10
Internações por doenças de veiculação hídrica e população feminina com acesso ao sistema de coleta de esgoto, de 2010 a 2019

 

Fonte: IBGE e DATASUS. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

Gráfico 3.11
Internações doenças de veiculação hídrica e população feminina com acesso ao serviço de água tratada, de 2010 a 2019

Fonte: IBGE e DATASUS. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

 

Os dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 (IBGE, 2021), os quais detalham um conjunto amplo de informações sobre as mulheres brasileiras, corroboram a relação negativa entre o acesso ao saneamento e o afastamento das atividades cotidianas por diarreia ou vômito. Constatou-se que a probabilidade de ocorrência de afastamento das atividades cotidianas por motivos de diarreia ou vômito estava negativamente correlacionada ao acesso aos serviços de coleta de esgoto e de água tratada. Quanto maior o acesso a esses serviços, menor a probabilidade de afastamento por doença de veiculação hídrica. Vale destacar que a análise de regressão também identificou que a probabilidade de afastamento em razão dessas doenças é significativamente menor entre os homens do que entre as mulheres – ver detalhes no Anexo Metodológico.

3.2 DOENÇAS RESPIRATÓRIAS

Afastamento por doenças respiratórias

Os dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) do IBGE de 2019 também permitem relacionar os problemas respiratórios que afligiram a população feminina brasileira com as condições de saneamento das mulheres. Aos moldes do que foi desenvolvido na seção anterior, a PNS traz informações sobre a incidência de afastamentos das atividades rotineiras nas populações feminina e masculina do Brasil por doenças respiratórias.

Em 2019, segundo dados da PNS, 3,543 milhões de pessoas indicaram ter se afastado de suas atividades rotineiras por doenças respiratórias. Desse total 2,091 milhões eram mulheres (59% do total) e 1,453 milhão eram homens (41% do total). Com base nesses dados, estima-se que houve 92,130 milhões de casos de afastamento por doenças respiratórias, sendo 54,360 milhões de casos entre as mulheres ao longo do ano de 2019.

Em 2019, 87,5% da população feminina afastada de suas atividades em razão de doenças respiratórias morava nas áreas urbanas do país e apenas 12,5% nas áreas rurais. Nas capitais das unidades da federação, ocorreram 13,532 milhões de casos (24,9% do total), e nas cidades do interior, 40,828 milhões (75,1% do total). As regiões do país com os maiores números de afastamento entre as mulheres foram o Sudeste, com 21,972 milhões de casos (40,4% do total) e o Nordeste, com 17,214 milhões de casos (31,7% do total).

Entre as unidades da federação, os maiores números de casos ocorreram nos estados mais populosos: sozinho, o estado de São Paulo respondeu por 24% dos casos de afastamentos de mulheres em razão de doenças respiratórias, Minas Gerais respondeu por 8,7% do total de casos no país e Bahia por 9,5%. As estatísticas por região, área e capitais são apresentadas na Tabela A.9 do Anexo Estatístico


Mapa 3.5
Incidência de mulheres internadas na rede do SUS por doenças de veiculação hídrica na população feminina, em casos por mil pessoas, 2019

Fonte: IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

 

Em 2019, houve 496,7 afastamentos a cada mil mulheres no país. Na média das capitais, a taxa de incidência foi mais alta: 50,2 casos por mil mulheres.  Em termos regionais, as maiores incidências ocorreram na Região Nordeste, com a observação de 575,2 casos por mil mulheres. Na região, os estados com maiores incidências de afastamentos por doenças respiratórias foram Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, todos com índices superiores a 500 afastamentos a cada mil mulheres.

As regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste também registraram taxas elevadas. Seis dos sete estados do Norte tiveram índices superiores a 500 casos por mil mulheres. Na Região Centro-Oeste, pesaram os casos de Goiás, com 445,9 casos a cada mil mulheres ao longo de 2019. Vale destacar os índices relativamente ruins do estado do Rio Grande do Sul, que teve 513,2 casos a cada mil mulheres, e de São Paulo, com 546,8 casos por mil mulheres.

Os afastamentos por doenças respiratórias estavam concentrados nas mulheres mais jovens. Na faixa etária de até 14 anos de idade, a incidência de afastamentos das atividades rotineiras chegou a 995,7 casos por mil mulheres em 2019. Na faixa entre 15 e 29 anos de idade, a incidência caiu para 415,0 casos por mil mulheres. A partir dos 30 anos, a taxa de incidência ficou em 352,4 casos a cada mil mulheres e voltou a subir para 421,1 casos por mil mulheres na faixa etária superior a 20 anos.

Vale observar que, para todas as faixas etárias, a incidência de afastamentos por diarreia ou vômito é maior na população feminina do que na masculina. A maior diferença em valor absoluto se deu na faixa etária de pessoas com mais de 60 anos. 

 

Gráfico 3.12
Incidência de afastamentos por doenças respiratórias na população, por gênero e faixa etária, em casos por mil habitantes, 2019

Fonte: IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

A incidência de afastamentos por doenças respiratórias foi muito elevada na população feminina indígena. Nesse grupo, houve 683,3 casos a cada mil mulheres em 2019. As populações de mulheres autodeclaradas pretas e pardas também registraram índices mais elevados: respectivamente 538,5 e 493,8 casos por mil mulheres.

Na distribuição por nível de instrução, as taxas de incidência foram maiores entre as mulheres sem instrução, categoria que registrou 675,6 casos a cada mil mulheres, e aquelas com médio incompleto: 500,7 casos por mil mulheres. O terceiro grupo com taxa mais elevada foi o de mulheres com fundamental incompleto, com 494,5 casos por mil pessoas. Como no caso das doenças de veiculação hídrica, foi relativamente reduzida a incidência de afastamentos por doenças respiratórias entre as mulheres com curso superior completo. Nesse grupo houve apenas 382,3 casos a cada mil mulheres em 2019. 

Gráfico 3.13
Incidência de afastamentos por doenças respiratórias na população feminina, por raça declarada, em casos por mil habitantes, 2019

Fonte: IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

 

Gráfico 3.13
Incidência de afastamentos por doenças respiratórias na população feminina, por raça declarada, em casos por mil habitantes, 2019

Fonte: IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

 

Do total de 54,360 milhões de casos de afastamento por doenças respiratórias entre as mulheres brasileiras, aquelas que moravam em domicílios no primeiro quintil da distribuição da renda domiciliar per capita responderam por 11,201 milhões de casos, ou seja, por 20,6% do total de casos. No segundo quintil, houve uma concentração maior: 12,762 milhões de casos, ou 23,5% do total. Em termos relativos, vale destacar que as taxas de incidência foram maiores nos dois primeiros quintis, onde ocorreram mais de 540 casos a cada mil mulheres. Isso está diretamente associado às condições materiais de vida, ao acesso ao saneamento e à falta de educação.

Gráfico 3.15
Distribuição por classe de rendimento dos afastamentos por doenças respiratórias na população feminina, 2019

 

Gráfico 3.16
Incidência de afastamentos por doenças respiratórias na população feminina, por quintil da distribuição domiciliar de renda per capita, em casos por mil habitantes, 2019

Fonte: IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

 

Gravidade das infecções

 

Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) do IBGE, nos 54,360 milhões de casos de afastament­o de mulheres por doenças respiratórias ocorridos no país ao longo de 2019, as mulheres afastadas ficaram longe de suas atividades por 4,5 dias, em média. Isso implicou a ocorrência de 244,785 milhões de dias de afastamento das atividades rotineiras ao longo de um ano.

Comparativamente à população masculina, vale mencionar que o número médio de dias de afastamento das mulheres em razão das doenças respiratórias também foi maior. No grupo dos homens, os afastamentos por esse motivo duraram 4,41 dias, em média. Assim, a população feminina respondeu por 59,5% do total de dias de afastamento e a masculina por apenas 40,5%. 

Mapa 3.6
Incidência de mulheres acamadas por doenças respiratórias na população feminina, em casos por mil pessoas, 2019

Fonte: IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

Dos 54,360 milhões de casos de afastamento de mulheres por doenças respiratórias ocorridos no país ao longo de 2019, 21,462 milhões ficaram acamadas pelo menos um dia durante o afastamento. Isso significa que em 39,5% dos casos de afastamento as infecções foram graves o suficiente para requerer acamamento. Nessa estatística de gravidade das infecções, os índices masculinos também foram mais reduzidos: apenas 34% dos homens que se afastaram de suas atividades rotineiras em razão dessas doenças ficaram acamados.

A taxa de incidência de mulheres acamadas em razão de doenças respiratórias foi de 196,1 em cada mil pessoas. Diferentemente das doenças de veiculação hídrica, a taxa de incidência foi maior nas áreas urbanas do país (199,9 a cada mil mulheres) e menor nas áreas rurais (171,8 a cada mil mulheres). A Tabela A.10 do Anexo Estatístico traz as estatísticas por unidade da federação, áreas e regiões.

A incidência de mulheres acamadas em razão de doenças respiratórias foi relativamente maior nas regiões Nordeste e Norte do país: respectivamente 242,1 e 214,7 casos por mil mulheres. As menores incidências foram nas regiões Sul e Centro-Oeste do Brasil, as quais registraram respectivamente taxas de 172,8 e 144,0 casos a cada mil mulheres. No caso da Região Sul, as estatísticas da área urbana do estado de Rio Grande do Sul chamam a atenção: a incidência de mulheres acamadas foi de 238,5 a cada mil pessoas. No Sudeste, as áreas urbanas de São Paulo também apresentaram índice muito elevado: 231,7 casos de acamamento a cada mil mulheres.

Aproximadamente um quarto dos casos de acamamentos em razão de doenças respiratórias ocorreu entre as mulheres com até 14 anos de idade. As mulheres jovens, com idade entre 15 e 29 anos, responderam por 18,7%, aquelas com idade entre 30 e 59 anos, por 38% dos casos, e as mulheres com mais de 60 anos, por 10,9%. Esse padrão é semelhante ao apresentado pelas doenças de veiculação hídrica.

Segundo informações da base de dados do Sistema Único de Saúde (DATASUS), houve 658,172 internações em razão de doenças respiratórias nos hospitais da rede do SUS em 2019. Do total de pessoas internadas, 317,873 (48,3% do total) eram mulheres e 340.299 eram homens (51,7% do total). A Tabela A.11 do Anexo Estatístico traz o número de mulheres internadas em razão de doenças respiratórias nos hospitais da rede do SUS em 2019, por unidade da federação, área e capitais, os quais permitem comparações com as estatísticas de afastamentos e de mulheres que ficaram acamadas.

 

Gráfico 3.17
Distribuição das mulheres acamadas em razão de doenças respiratórias, por faixa etária, 2019

 

Gráfico 3.18
Parcela da população feminina afastada por doenças respiratórias que ficou acamada, por faixa etária, 2019

Fonte: DATASUS e IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

As estatísticas mostram a incidência de 2,905 internações a cada mil mulheres em 2019, valor ligeiramente maior que o da população masculina (2,870 por mil homens). Esse resultado se deveu à maior incidência de internações na população feminina com mais de 60 anos de idade. Os dados mostram que as mulheres ficaram, em média, em torno de 6,2 dias internadas, indicando o total de 1.964.744 dias de internação em hospitais da rede do SUS em 2019.

 

Gráfico 3.19
Incidência de internações por motivo de doenças respiratórias na população, por gênero e faixa etária, em casos por mil habitantes, 2019

Fonte: DATASUS e IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

 

Mapa 3.7
Incidência de mulheres internadas na rede do SUS por doenças respiratórias na população feminina, em casos por mil pessoas, 2019

Fonte: DATASUS e IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

 

Também conforme as estatísticas do DATASUS, foram registrados cerca de 61 mil óbitos em razão das doenças respiratórias em todo país em 2019. Desse total, 29.497 óbitos foram de mulheres (48,4% do total). Desses óbitos, 85,5% ocorreram na população mais idosa, apesar do fato de essas enfermidades serem mais frequentes nas mulheres com menos de 59 anos. Apenas 2,9% dos óbitos foram em meninas e jovens com até 19 anos de idade.

A taxa de mortalidade em razão de doenças respiratórias foi menor entre as mulheres do que entre os homens. Em 2019, 26,955 mulheres morreram por esse motivo em cada 100 mil pessoas. Na população masculina, a taxa de mortalidade foi de 31,454 pessoas em cada 100 mil homens. Considerando as faixas etárias, a maior proporção de mortes ocorreu na população feminina com mais de 60 anos de idade: 129,398 pessoas a cada 100 mil mulheres.

Gráfico 3.20
Incidência de óbitos por doenças respiratórias na população, por gênero e faixa etária, m casos por 100 mil habitantes, 2019

A taxa de mortalidade foi particularmente elevada na Região Sul, com a incidência de 36,129 mortes a cada 100 mil mulheres. Esse valor elevado se deveu aos índices de Rio Grande do Sul (44,727 mortes a cada 100 mil mulheres) e Santa Catarina (37,322 mortes a cada 100 mil mulheres). O Sudeste é a segunda região com maior mortalidade com incidência de 28,885 mortes por 100 mil mulheres. Nesse caso, pesaram as taxas elevadas de Minas Gerais (32,170 mortes a cada 100 mil mulheres) e São Paulo (30,073 mortes a cada 100 mil mulheres).

 

Mapa 3.8
Óbitos de mulheres por doenças respiratórias na população feminina, em casos por 100 mil pessoas, 2019

Fonte: DATASUS e IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

 

No Norte do país, a maior taxa foi observada em Roraima, que registrou 39,011 mortes por 100 mil mulheres. No Nordeste, os estados com maiores incidências de mortes em razão de doenças gastrointestinais infecciosas foram Paraíba (30,853 mortes a cada 100 mil mulheres) e Ceará (38,661 mortes a cada 100 mil mulheres).

 

Saúde e saneamento

 

Assim como foi observado no caso das doenças de veiculação hídrica, o avanço da distribuição de água tratada e da coleta e do tratamento de esgoto traz resultados visíveis na incidência das doenças respiratórias na população feminina brasileira.

O Gráfico 3.21 mostra, para a população feminina, a evolução conjunta da cobertura de coleta de esgoto no país e a incidência de doenças respiratórias que resultaram em internação no SUS entre 2010 e 2019. A cada ano, com o aumento da parcela da população feminina atendida pelo sistema de coleta de esgoto, caiu de forma sistemática a taxa de internações (pessoas internadas por mil mulheres). O Gráfico 3.22, por sua vez, mostra a ampliação da população com acesso à água tratada e a redução sistemática da taxa de incidência de doenças respiratórias. 

 

Mapa 3.21
Internações por doenças respiratórias e população feminina com acesso ao sistema de coleta de esgoto, de 2010 a 2019

 

Mapa 3.22
Internações doenças respiratórias e população feminina com acesso ao serviço de água tratada, de 2010 a 2019

Os dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 (IBGE, 2021) também corroboram a relação negativa entre o acesso ao saneamento e o afastamento das atividades cotidianas por doenças respiratórias. Constatou-se que a probabilidade de ocorrência de afastamento das atividades cotidianas por essas doenças estava negativamente correlacionada ao acesso aos serviços de coleta de esgoto e de água tratada. Quanto maior o acesso a esses serviços, menor a probabilidade de afastamento por doença respiratória.

Vale destacar que a análise de regressão também identificou que a probabilidade de afastamento em razão dessas doenças é significativamente menor entre os homens do que entre as mulheres – ver detalhes no Anexo Estatístico.

 

3.1. DOENÇAS GINECOLÓGICAS

Afastamento por doenças ginecológicas

 

Os dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) do IBGE de 2019 também permitem relacionar a incidência de doenças ginecológicas com as condições de saneamento das mulheres. Aos moldes do que foi desenvolvido nas seções anteriores, a PNS traz informações sobre a incidência de afastamentos das atividades rotineiras nas populações femininas por doenças ginecológicos e obstétricas. Na presente análise, contudo, foram empregados filtros para selecionar os problemas que ocorrem na população feminina em idade menstrual (com 12 anos ou mais e idade inferior a 55 anos), excluindo do universo as mulheres grávidas ou puérperas.

A seleção leva em consideração outras variáveis da pesquisa que indicam se as mulheres analisadas estavam grávidas, fizeram exames ou acompanhamento de pré-natal ou procuraram os serviços de saúde públicos e privados para a realização de parto ou em razão de problemas decorrentes do parto ou gestação. Assim, foi possível excluir dos indicadores os casos de afastamento em razão do parto ou gestação, situações que estão fora do escopo dos problemas associados à pobreza menstrual.

 

Mapa 3.9
Incidência de afastamento por doenças ginecológicas na população feminina, em casos por mil mulheres*, 2019

Fonte: IBGE. *Com idade entre 12 e 55 anos. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

Em 2019, segundo dados da PNS, 241.051 mulheres indicaram ter se afastado de suas atividades rotineiras por doenças ginecológicas. Com base nesses dados, estima-se que houve 6,267 milhões de casos de afastamento por doenças ginecológicas ao longo do ano de 2019. Em 2019, 85,7% da população feminina afastada de suas atividades em razão de doenças ginecológicas morava nas áreas urbanas do país e apenas 14,3% nas áreas rurais.

Nas capitais das unidades da federação, ocorreram 1,188 milhão de casos (18,9% do total), e nas cidades do interior, 5,080 milhões (81,1% do total). As regiões do país com os maiores números de afastamento entre as mulheres foram o Nordeste, com 2,037 milhões de casos (32,5% do total), e o Sudeste, com 2,015 milhões de casos (32,2% do total). Entre as unidades da federação, os maiores números de casos ocorreram nos estados mais populosos: sozinho, o estado de São Paulo respondeu por 19,3% dos casos de afastamentos de mulheres em razão de doenças ginecológicas, Minas Gerais respondeu por 8% do total de casos e Pernambuco por 9,7%. As estatísticas por região, área e capitais são apresentadas na Tabela A.17 do Anexo Estatístico.

Em 2019, houve 92,8 afastamentos por doenças ginecológicas a cada mil mulheres entre 12 e 55 anos de idade no país.  Em termos regionais, as maiores incidências ocorreram na Região Centro-Oeste do país, com a ocorrência de 133,7 casos por mil mulheres. Na região, o estado com maior incidência de afastamentos foi Mato Grosso do Sul, com 199,6 casos por mil mulheres com idade entre 12 e 55 anos, mas em todos os estados os índices foram superiores a 100 afastamentos a cada mil mulheres nessa faixa etária.

As regiões Nordeste e Norte também registraram taxas elevadas. Cinco dos sete estados do Norte tiveram índices superiores a 100 casos por mil mulheres. Na Região Nordeste, pesaram os casos de Pernambuco, com 191,2 casos a cada mil mulheres ao longo de 2019, Maranhão (146,8 casos a cada mil mulheres) e Piauí (133,6 casos a cada mil mulheres).

Os afastamentos por doenças ginecológicas estavam concentrados nas mulheres adultas. Na faixa etária de 40 a 49 anos de idade, a incidência de afastamentos das atividades rotineiras chegou a 142,6 casos por mil mulheres em 2019. Na faixa entre 30 e 39 anos de idade, a incidência foi 116,0 casos por mil mulheres. A incidência entre as meninas com idade entre 15 e 19 anos de idade também foi elevada, se aproximando dos 100 casos a cada jovem nessa faixa etária.

 

Mapa 3.23
Incidência de afastamentos por doenças ginecológicas, por gênero e faixa etária, em casos por mil mulheres*, 2019

Fonte: IBGE. * Com idade entre 12 e 55 anos. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

 

A incidência de afastamentos por doenças ginecológicas foi muito elevada na população feminina indígena. Nesse grupo, houve 160,7 casos a cada mil mulheres em 2019. As mulheres autodeclaradas pardas também registraram índice mais elevado: 108,1 casos por mil mulheres. A incidência foi muito baixa nas mulheres autodeclaradas amarelas: 15,7 casos a cada mil mulheres.

Na distribuição por nível de instrução, as taxas de incidência foram maiores entre as mulheres sem fundamental completo, categoria que registrou 105,1 casos a cada mil mulheres, e aquelas com ensino superior incompleto: 110,3 casos por mil mulheres. O terceiro grupo com taxa mais elevada foi o de mulheres com ensino superior, com 98,4 casos por mil pessoas, situação contrária ao que se observou nas doenças de veiculação hídrica e respiratórias.

 

Gráfico 3.24
Incidência de afastamentos por doenças ginecológicas, por raça declarada, em casos por mil mulheres*, 2019

Fonte: IBGE. * Com idade entre 12 e 55 anos. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

 

Gráfico 3.25
Incidência de afastamentos por doenças ginecológicas, por nível de instrução, em casos por mil mulheres*, 2019

 

Do total de 6,267 milhões de casos de afastamento por doenças ginecológicas entre as mulheres brasileiras com idade entre 12 e 55 anos, aquelas que moravam em domicílios no primeiro quintil da distribuição da renda domiciliar per capita responderam por 1,287 milhão de casos, ou seja, por 20,5% do total de casos. No segundo quintil, houve uma concentração ainda maior: 1,485 milhão de casos, ou 23,7% do total. Tanto em termos absolutos quanto em termos relativos, vale destacar que a taxa de incidência foram maiores no terceiro quintil, onde ocorreu 1,731 milhão de casos (27,6% do total), ou quase 125 casos a cada mil mulheres. Isso mostra que a incidência dessas doenças não é explicada apenas pela condição de renda e, portanto, ela está diretamente associada a outras condições materiais de vida, como o acesso ao saneamento.

 

Gráfico 3.26
Distribuição por classe de rendimento dos afastamentos de mulheres* por doenças ginecológicas, 2019

 

Gráfico 3.27
Incidência de afastamentos por doenças ginecológicas, por quintil da distribuição domiciliar de renda per capita, em casos por mil mulheres*, 2019

 

Saneamento e saúde

 

O acesso ao saneamento está associado à incidência das doenças ginecológicas na população feminina brasileira. O Gráfico 3.28 mostra, para a população feminina com idade entre 12 e 55 anos, a incidência de doenças ginecológicas nos grupos com e sem acesso ao saneamento em 2019. Os grupos considerados levam em consideração (i) a disponibilidade ou não de água canaliza na residência, (ii) a existência ou não de coleta de esgoto por meio de rede geral e (iii) a existência ou não de banheiro de uso exclusivo na moradia. Os grupos com acesso ao saneamento tiveram, em média, taxas de incidência de afastamentos por doenças ginecológicas menores que os grupos que não recebiam água canalizada na residência, cujas moradias não estavam ligadas à rede geral de coleta de esgoto ou que moravam em habitações sem banheiro de uso exclusivo.

 

Gráfico 3.28
Incidência de afastamentos por doenças ginecológicas e condições do saneamento*, Brasil, 2019

 

Os dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 (IBGE, 2021) também corroboram a relação negativa entre o acesso ao saneamento e o afastamento das atividades cotidianas por doenças ginecológicas. Constatou-se que a probabilidade de ocorrência de afastamento das atividades cotidianas por essas doenças estava negativamente correlacionada ao acesso aos serviços de coleta de esgoto e à existência de banheiro de uso exclusivo na residência. A existência de banheiro de uso exclusivo na residência reduz em 45,4% a probabilidade de afastamento por doença ginecológica, enquanto a disponibilidade de serviço de coleta de esgoto na moradia diminui em 18,1% a chance de uma mulher ter um afastamento por doença ginecológica. Portanto, o acesso pleno ao saneamento pode reduzir em 63,4% a incidência de doenças ginecológicas na população feminina com idade entre 12 e 55 anos. O Anexo Estatístico apresenta essas estimativas e descreve a análise desenvolvida.